O que são os 'genes saltadores' e como eles podem ser aliados na luta contra o câncer
A história dos genes saltadores iniciou com uma cientista americana, chamada Barbara McClintock, que estudou os cromossomos do milho entre as décadas de 1920 e 1950. Nessa época, a citogeneticista descobriu peculiaridades nos cromossomos que revolucionou a forma como entendemos os genes. Suas descobertas seriam tão impactantes que foram recebidas com ceticismo pela comunidade científica levando-a parar de publicar seus achados. Apenas na década de 1980 seu trabalho foi reconhecido e Barbara, finalmente, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1983.
O DNA que forma os cromossomos, deduziu ela ao estudar o milho, não era estático, mas sim contém pedaços capazes de saltar de um lado para o outro. Esses “genes saltadores” ou elementos transponíveis, como iríamos descobrir, são essenciais para a compreensão, por exemplo, de doenças complexas como o câncer.
O que são os “genes saltadores”?
Transposons são pedaços de DNA que têm a capacidade de ser removidos ou copiados de uma área do genoma e ir para um novo local. Logo, eles têm a capacidade de alterar o funcionamento de outros genes, em especial genes ligados ao câncer, se forem inseridos numa posição infeliz. Os genomas animais normalmente possuem múltiplas cópias desses elementos, principalmente o nosso que é composto em torno de 50% de genes saltadores.
A maioria deles é mantida sob um sistema de silenciamento firme e não são capazes de transcrever seu DNA (em um RNA mensageiro), portanto, não se movem. Mas, aqueles que conseguem fazer isso, podem saltar e entrar em qualquer gene, portanto, podendo alterar qualquer gene. A mobilização dos genes saltadores foi relacionada a algumas doenças como certos casos de hemofilia, leucemia, câncer do cólon e câncer de mama.
A relação com o câncer
O câncer é uma doença em que as células perdem seu controle e iniciam um crescimento desordenado, sendo capazes de invadir outros tecidos, até distantes da origem do tumor. Essa característica de perda de controle também pode fazer com que o sistema de silenciamento dos transposons seja falho ou inativado, levando a transcrição e até mobilização desses elementos. Esses eventos, geralmente, são relacionados a um pior prognóstico (desfecho), porém, em certos casos, podemos explorar suas peculiaridades e usá-las ao nosso favor.
Recentemente, tem se observado que alguns tratamentos para o câncer são capazes de ativar determinado conjunto de genes saltadores. Esse conjunto de transposons, os retrovírus endógenos, há muito tempo inativos, ao serem transcritos não são reconhecidos pela célula como sendo dela mesma. Assim como os vírus, esses transposons podem ativar o nosso sistema imunológico. Os cientistas, então, resolveram explorar esse fato e viram que isso pode favorecer outros tipos de terapia, como a imunoterapia, e potencializar a diminuição do tumor. Essa ideia de combinação de terapias tem avançado pelos ensaios clínicos e contribuído com a esperança na luta contra o câncer.
MOMBACH, Daniela. O que são os 'genes saltadores' e como eles podem ser aliados na luta contra o câncer. Galantelab, 4 de dezembro de 2023. Disponível em: https://galantelab.github.io/blog/elementos%20transpon%C3%ADveis/c%C3%A2ncer/dna/2023/12/04/o-que-sao-os-genes-saltadores.html. Acesso em: