A odisseia do Projeto Genoma Humano e como os resultados deste projeto vem mudando o nosso mundo

A odisseia do Projeto Genoma Humano e como os resultados deste projeto vem mudando o nosso mundo

Neste artigo, gostaria de discutir o Projeto Genoma Humano (PGH). O PGH foi um projeto de pesquisa científica internacional com o objetivo de determinar a sequência do nosso genoma, a ordem dos aproximadamente 3 bilhões de pares de bases de DNA que compõem o DNA humano. O projeto também tinha como meta identificar e mapear todos os genes do genoma humano, bem como parte das sequências funcionais do nosso DNA. Esse esforço contou principalmente com centros de pesquisa e pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Japão e China. Embora planejado para durar 15 anos a partir de sua formalização em 1990, um rascunho do genoma humano foi anunciado em 2001. O PGH foi declarado concluído em abril de 2003, finalizando antes do prazo e com um custo direto estimado de 3 bilhões de Dólares (nota: 5 bilhões de Dólares em valor atual).

Um dos principais achados do PGH é que os seres humanos têm cerca de 20.000 genes codificadores, número inferior ao estimado anteriormente. Ficou claro também que uma parcela significativa do genoma, cerca de 50%, é composta por elementos repetitivos. Embora antes fossem frequentemente referidos como “DNA tralha”, hoje entende-se que tais sequências têm importância crucial para a evolução das espécies, regulação da atividade gênica e geração de novidade genética.

O PGH foi um catalisador para o desenvolvimento de tecnologias emergentes e novas áreas de pesquisa. Exemplificando, temos o surgimento de tecnologias de sequenciamento mais rápidas e baratas, como o Next Generation Sequencing (NGS), que tem revolucionado campos como biologia e medicina. A conclusão deste projeto ampliou nossa compreensão das complexidades do genoma humano, enriquecendo nosso entendimento sobre as funções de muitos genes e elementos regulatórios. Além disso, iniciativas subsequentes, como o projeto ENCODE (Enciclopédia dos Elementos de DNA) e o TCGA (The Cancer Genome Atlas), surgiram, aproveitando a base fornecida pelo PGH e fornecendo insights mais profundos sobre o genoma humano e a biologia do câncer.

Como ocorre com muitos empreendimentos científicos de grande envergadura, o PGH enfrentou controvérsias. A competição com a Celera Genomics, sob a liderança do Dr. Craig Venter, gerou debates acalorados, especialmente sobre o acesso e patenteamento de informações genéticas. Críticas incluíam questionamentos sobre o alto custo do projeto e se os benefícios prometidos, tanto científicos quanto médicos, seriam efetivamente realizados. Também havia preocupações sobre o uso indevido de dados genéticos, impactando a privacidade e potencial discriminação baseada em informações genéticas.

Vinte anos após a conclusão do PGH, é inegável seu impacto duradouro na ciência, medicina e em nossa compreensão da biologia humana. Pessoalmente, vejo-me como um produto científico deste projeto monumental, tendo iniciado minha trajetória científica em 2001. Desde então, meu grupo de pesquisa e eu temos nos dedicado a tópicos relacionados ao genoma humano, beneficiando-nos enormemente dos avanços e descobertas deste projeto.

GALANTE, Pedro A. F. A odisseia do Projeto Genoma Humano e como os resultados deste projeto vem mudando o nosso mundo. Galantelab, 2 de outubro de 2023. Disponível em: https://galantelab.github.io/blog/dna/projeto%20genoma%20humano/ngs/2023/10/02/a-odisseia-do-projeto-genoma-humano.html. Acesso em:

Pedro A. F. Galante

Pedro A. F. Galante Chefe de laboratório no Galantelab

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