Oportunidades em bioinformática na indústria, mesmo para quem ainda não está graduado

Oportunidades em bioinformática na indústria, mesmo para quem ainda não está graduado

A Bioinformática é uma área que combina biologia, ciência da computação e tecnologia da informação para analisar e interpretar dados biológicos, como sequências de DNA, expressão gênica, estrutura de proteínas, entre outros. Esses dados são fundamentais para entender o funcionamento dos organismos vivos, bem como para desenvolver novas aplicações em saúde, agricultura, meio ambiente e biotecnologia.

No entanto, apesar da importância crescente da bioinformática no cenário mundial, o Brasil ainda enfrenta alguns desafios para formar e inserir profissionais qualificados nessa área, especialmente na indústria. Muitos graduandos interessados em bioinformática não encontram oportunidades de estágio ou emprego que correspondam às suas expectativas e habilidades, ou que lhes permitam explorar diferentes áreas e projetos dentro da bioinformática.

Neste artigo, eu vou compartilhar a minha experiência pessoal como bioinformata em uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo, e também apresentar algumas dicas e sugestões para quem está buscando uma oportunidade na indústria. O meu objetivo é mostrar que existem sim possibilidades de se construir uma carreira próspera e gratificante na bioinformática, mesmo em um contexto onde a demanda ainda é menor que a oferta.

Minha jornada na Bioinformática

Estou cursando o último semestre de Engenharia Biotecnológica na UNESP, e sempre tive interesse em pesquisa e inovação. Durante a graduação, eu participei de projetos de em diferentes áreas, como matemática aplicada, genética e biologia molecular. Vim de uma família de programadores, então o contato com linguagens de programação sempre esteve presente na minha vida e foi ótimo pois percebi ao longo do tempo que essas ferramentas eram essenciais para lidar com os dados cada vez mais complexos e volumosos da biologia.

Quando chegou a época de procurar estágios, eu decidi buscar uma oportunidade na indústria, pois queria conhecer um ambiente diferente do acadêmico, e também ter a chance de aplicar o meu conhecimento em problemas reais e relevantes. Foi então que eu me inscrevi para um processo seletivo de estágio em uma empresa multinacional de biotecnologia, que atua no setor farmacêutico. Acabei sendo selecionada para trabalhar na área de Tecnologia, como estagiária em especialista de inovação. Nesta função, eu era responsável por identificar e avaliar novas tecnologias que pudessem trazer benefícios para os negócios da empresa, como inteligência artificial, internet das coisas, blockchain, entre outras. Eu também participava de projetos de inovação aberta, onde a empresa se conectava com startups, universidades e institutos de pesquisa para desenvolver soluções em conjunto.O trabalho era interessante, mas faltava algo, mais desafios e novos aprendizados. Eu queria usar o meu conhecimento em biologia, e também aprender mais sobre “a bioinformática”, uma área que sempre me fascinou. Foi então que eu descobri que a empresa tinha um programa de job rotation, o qual permitia que os estagiários trocassem de área por um período de tempo, para conhecer outras funções e projetos.

Eu fui selecionada para fazer um job rotation na área de Bioinformática, em outra empresa do mesmo grupo, tudo de maneira remota. O meu primeiro projeto foi para na área de genômica, onde eu tinha que analisar dados biológicos de uma pesquisa clínica para determinar se um novo tratamento que estava sendo desenvolvido pela empresa estava ou não resultando nos efeitos esperados.

Eu adorei o projeto, pois era muito desafiador e estimulante. Eu aprendi muito sobre bioinformática, tanto de forma autodidata, quanto com a ajuda de mentores que me acompanharam durante todo o meu estágio. Eu também tive a oportunidade de interagir com outros profissionais da área, tanto nacional quanto internacionalmente, e de participar de cursos, workshops e eventos sobre bioinformática.

Eu me senti muito confortável em iniciar em uma área completamente nova, com todo esse apoio e supervisão que eu estava tendo. Eu também me senti muito valorizada, pois o meu trabalho era reconhecido e elogiado pelos meus gestores e colegas. Eu percebi que eu tinha encontrado o meu “sweet spot”,, algo que me instiga a procurar novas informações para executar as minhas tarefas e estar em constante evolução. Eu fiquei na área de Bioinformática até o final do meu estágio, e depois continuei trabalhando no mesmo projeto, mas também participei de outros, envolvendo outras áreas da biologia, como genética de populações, transcriptômica, genômica etc. No total, trabalhei na empresa por dois anos. Foi uma experiência incrível. Eu me desenvolvi profissionalmente e pessoalmente, fiz muitos amigos e expandi o meu networking de relacionamentos profissionais. Sou muito grata por todas as oportunidades que tive e consegui aproveitar.

Dicas e sugestões para quem está buscando uma oportunidade na indústria

À primeira vista, o mercado de bioinformática no Brasil pode parecer limitado, mas existem muitas empresas que estão buscando profissionais de bioinformática, e que valorizam o talento e o potencial de alunos de graduação, de cursos com formação interdisciplinar como o meu, e que podem atuar na área de bioinformática. .

Por isso, eu gostaria de compartilhar algumas dicas e sugestões para quem está procurando uma oportunidade na indústria, baseadas na minha própria experiência. São elas:

  • Tenha um currículo atualizado e atrativo: O seu currículo é o seu cartão de visitas, e deve mostrar o seu perfil, as suas habilidades e as suas realizações de forma clara e objetiva. Inclua os seus dados pessoais, a sua formação acadêmica, os seus projetos de pesquisa, os seus cursos complementares, idiomas, os seus softwares e ferramentas que você domina, e os seus prêmios e reconhecimentos, tudo de maneira detalhada. Use um formato simples e elegante, e evite erros de ortografia e gramática. Se possível, crie um portfólio online, onde você possa mostrar os seus trabalhos e projetos de forma mais detalhada e interativa;
  • Busque oportunidades em diferentes fontes: Não se limite a procurar vagas em sites de emprego ou em redes sociais. Explore outras fontes, como grupos de bioinformática no LinkedIn ou outras redes, eventos e feiras de carreira, indicações de professores e colegas, e contatos diretos com as empresas. Pesquise sobre as empresas que atuam na área de bioinformática, e envie o seu currículo para elas, mesmo que não tenham vagas abertas. Mostre o seu interesse e o seu diferencial, e mantenha-se atualizado sobre as novidades e tendências do mercado. A participação em eventos científicos e competições são sempre bem vistos pelos recrutadores e também podem ser uma porta de entrada para novas oportunidades. Algumas dicas são: Liga Brasileira de Bioinformática, Sanger Prize, X-Meeting, CNPEM, Dasa e Roche;
  • Prepare-se para os processos seletivos: Antes de se candidatar a uma vaga, pesquise sobre a empresa, a área e o projeto que você vai trabalhar. Saiba quais são os objetivos, os desafios e as expectativas da empresa, e como você pode contribuir para eles. Durante as entrevistas, seja sincero, confiante e entusiasmado. Mostre o seu conhecimento, a sua experiência e a sua motivação. Responda às perguntas com clareza e coerência, e faça perguntas relevantes e inteligentes. Se houver testes ou provas, estude e revise os conteúdos e as ferramentas que você vai usar. Se houver dinâmicas ou apresentações, seja criativo;
  • Mantenha-se sempre atualizado! O constante estudo faz parte da rotina de um pesquisador, então mostrar-se à par dos assuntos e estar sempre interessado em aprender irá te destacar sempre.

DE OLIVEIRA, Vitoria R. L. Oportunidades em bioinformática na indústria, mesmo para quem ainda não está graduado. Galantelab, 7 de março de 2024. Disponível em: https://galantelab.github.io/blog/bioinform%C3%A1tica/oportunidade/carreira/2024/03/07/oportunidades-em-bioinfo-na-industria.html. Acesso em:

Vitoria R. L. de Oliveira

Vitoria R. L. de Oliveira Graduanda de Engenharia Biotecnológica na UNESP de Assis e aluna de iniciação científica no Galantelab, dedicando-se ao estudo de reguladores da expressão gênica

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